Como Cortes de Cima está a redefinir o Alentejo, cacho a cacho

Cortes de Cima nasceu da visão pioneira de um casal dinamarquês-americano, Carrie e Hans Jørgensen, que ousaram plantar Syrah em terras alentejanas. Hoje, com a liderança de Anna Jørgensen, o projeto entrou numa nova fase, marcada por consciência ecológica, sensibilidade e profundo respeito pela terra.

Como descreveu Julia Harding MW, da equipa JancisRobinson.com:
“Os resultados são extraordinários em tão pouco tempo. E como algumas dessas mudanças terão implicações a longo prazo, o futuro da Cortes de Cima é ainda mais promissor.”


Na adega: menos intervenção, mais expressão

A transformação de Cortes de Cima não se restringe às vinhas — estende-se à própria adega, onde desde 2020 se trabalha com uma abordagem mais natural e precisa:

  • Fermentações espontâneas com leveduras indígenas

  • Redução drástica da adição de SO₂

  • Abandono de barricas novas em favor de formatos maiores, inox, cimento, vidro e cerâmica (clayver)

  • Infusões delicadas ao invés de extrações invasivas 

O resultado são vinhos mais frescos, puros e transparentes — espelhos fiéis do seu terroir.

Alguns dos novos "brinquedos" de Anna:

Visita do time Belcanto (2 estrelas Michelin): 


Nas vinhas: seleção, redução e reequilíbrio

Desde os seus primeiros passos no projeto, Anna Jørgensen tomou uma decisão corajosa: reduzir a área de vinha de 240 para 97 hectares.

Este não foi um recuo, mas sim uma escolha estratégica, baseada em estudos de solo conduzidos pelo prestigiado consultor Pedro Parra, que ajudaram a identificar as parcelas com verdadeiro potencial qualitativo e sustentabilidade.

As restantes áreas foram convertidas em olivais, pomares e zonas florestais, criando um sistema agrícola mais biodiverso e resiliente.

Um pit de calcário:

Um pit de granito:


Uma propriedade com alma

Hoje, a transformação de Cortes de Cima é visível não só nos vinhos — que ganharam uma nova dimensão de frescura e autenticidade — mas também no ambiente:

Burros, vacas, gansos, galinhas e ovelhas circulam livremente, fertilizando os solos e substituindo herbicidas e maquinaria pesada.

Como resume Anna Jørgensen:
"Não se trata de seguir uma 'receita para vinhos de qualidade', mas de criar um sistema agrícola mais resiliente, mais humano, mais enraizado no tempo longo da terra."

Em paralelo, a equipa trabalha com Georg Meissner e Marco Simonit, referências mundiais em biodinâmica e em poda respeitadora, respectivamente, para garantir vinhas longevas e equilibradas.


Sabedoria biodinâmica: a influência de Georg Meissner

Entre os pilares da transformação em curso, destaca-se a colaboração com o Dr. Georg Meissner, um dos nomes mais respeitados no mundo da viticultura biodinâmica.

Desde 2022, com o seu apoio, Cortes de Cima iniciou a conversão para práticas biodinâmicas:

  • Preparados naturais que fortalecem o solo e as plantas

  • Gestão da vinha respeitando os ritmos naturais da terra e do cosmos

  • Foco na vida invisível do solo, promovendo equilíbrio ecológico em vez de controlo forçado

Como diz Meissner:
"Grandes vinhos, grandes produtos, vêm de quintas saudáveis e vibrantes."


Quem é Georg Meissner?

Consultor em biodinâmica para a reputada Alois Lageder (Alto Adige), investigador no Instituto de Geisenheim e com formação em Montpellier, Meissner alia prática biodinâmica a uma abordagem científica rigorosa

Além de investigador, Georg é professor na Universidade de Geisenheim e doutorado em viticultura biodinâmica. Dá regularmente palestras para organizações como a Biodivin e a Demeter. 

Desde 2006, lidera estudos comparativos entre viticultura convencional, biológica e biodinâmica — confirmando, em laboratório e no copo, aquilo que muitos agricultores já intuíam: a vitalidade da terra reflete-se directamente na qualidade do vinho.

Meissner acredita que um bom vinho começa muito antes da vindima — começa na escuta atenta da terra. E é isso que se está a fazer agora em Cortes de Cima: observar, cuidar e devolver o protagonismo à natureza.


A Arte da Poda com Marco Simonit: longevidade para as vinhas

Num projeto guiado pela escuta da terra e pela busca de excelência a longo prazo, a poda adquire um papel crucial.

Desde 2019, Marco Simonit — fundador da Simonit & Sirch Vine Master Pruners e consultor de propriedades como Domaine de la Romanée-Conti — colabora com Cortes de Cima.

O seu método:

  • Preservação da madeira velha das plantas

  • Abolir cortes agressivos

  • Planeamento a longo prazo

  • Leitura personalizada de cada planta

Porquê a poda importa tanto?

A poda define a arquitetura da planta, a forma como ela cresce, como respira e como se defende. Durante anos, práticas industriais de poda levaram à degradação precoce de muitas vinhas, com cortes agressivos, sem consideração pelas estruturas vitais da planta.

O método Simonit propõe o contrário: uma poda suave, respeitosa, duradoura.

A colaboração com Cortes de Cima

O impacto foi imediato:

  • As vinhas tornaram-se mais equilibradas, resistentes e produtivas por mais tempo
  • A saúde geral das plantas melhorou
  • E, sobretudo, consolidou-se uma nova cultura de cuidado e paciência com as vinhas

Em colaboração com a equipa da Simonit & Sirch, foi realizado um estudo aprofundado sobre o estado sanitário das videiras existentes, com o objetivo de avaliar quais poderiam ser preservadas e quais deveriam ser arrancadas. A decisão baseou-se na identificação de doenças do lenho em estágio avançado, frequentemente provocadas por intervenções de poda excessivamente agressivas no passado.

A poda, que outrora era apenas um ato técnico, tornou-se parte da filosofia regenerativa do projeto. 


Uma vinha que respira tempo

No contexto da transformação liderada por Anna Jørgensen, as colaborações com figuras como Marco Simonit e Georg Meissner não são meros elementos de prestígio — são parte essencial de uma visão que coloca a vinha como organismo vivo, a ser cuidado com paciência e respeito.

Com a poda certa, com os preparados certos, com o ecossistema certo, a vinha responde, floresce e emociona.

O vinho, por sua vez, é o reflexo desta conversa profunda entre humanos, plantas, solo e tempo.